Você, que é cadeirante, não tem movimento nos membros inferiores, adora futebol e sonha em jogar uma partida.
Prepare-se! Seu sonho pode se tornar realidade.
Está achando que não leu direito? Leu, sim! Cientistas comandados por Miguel Nicolelis* estão trabalhando num projeto que fará um paraplégico dar o pontapé inicial do primeiro jogo válido pela Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Fruto de uma parceria da universidade americana Duke com instituições alemãs, suíças e brasileiras, o “Walk Again Project” ou “Projeto Andar de novo” almeja, nada mais nada menos, do que desenvolver a capacidade de movimento em vítimas de lesões ou doenças neuromotoras. Você certamente deve estar se perguntando: “Como isso será possível?”
Segundo Miguel Nicolelis, a ideia é utilizar uma roupa mecânica chamada de Exoesqueleto. Ela reagirá a estímulos cerebrais, que através de neuropróteses, poderão promover uma conexão harmoniosa entre cérebro e máquina, capaz de alavancar significativa evolução em matéria de reabilitação motora.
Experiências feitas com os Exoesqueletos em animais e humanos, tiveram resultado positivo, mostrando que por meio de um processo de codificação e decodificação, pode-se usar a atividade elétrica para controlar os movimentos da roupa mecânica. O cientista frisa que a eficiência do projeto depende de ajustar esse processo a fatores da coordenação motora, o que levaria o cérebro a entender o aparelho como parte do corpo.
Os felizardos que podem ter a honra de estrear o Exoesqueleto sob os holofotes da imprensa mundial, protagonizando um possível histórico avanço da ciência, estão sendo submetidos a exercícios que fazem parte de uma preparação especial conduzida pela AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
Está surpreso? Eu também estou! Agora só resta aguardar com ainda mais ansiedade o dia 12 de junho de 2014, quando antes mesmo do jogo começar, será marcado o primeiro golaço da Copa, que para Miguel Nicolelis, pode futuramente representar a aposentadoria das cadeiras de roda.
Portanto digo a você e a todos os cadeirantes que lerem esse texto: “Renove suas esperanças de um dia entrar em campo como um vencedor no futebol e na vida.”
*Miguel Nicolelis
Miguel Ângelo Laporta Nicolelis formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e hoje dedica-se a estudos voltados para a neurociência na Universidade Duke (EUA), onde, apoiado por um grupo de cientistas, busca desenvolver formas de conectar o cérebro humano a máquinas, formando uma espécie de prótese neural capaz de reparar perdas motoras causadas por paralisias corporais em diversos pacientes. Na mesma instituição, Nicolelis é professor titular de neurobiologia, engenharia biomédica e co-diretor do Centro de Neuroengenharia. O cientista desenvolveu, por exemplo, um sistema de braços robóticos reconhecido pelo Massachusetts Institute Of Technology (MIT), como uma das tecnologias que vai mudar o mundo. Algumas experiências desenvolvidas por ele nos Estados Unidos também são trabalhadas no Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Toda essa bagagem rendeu a Miguel Nicolelis prêmios como o Pioneer, o Transformative R01 e o título de um dos 20 maiores cientistas do mundo na década passada, concedido pela revista americana “Scientific American”.
Texto de Alexandre dos Santos Gouveia
Alexandre dos Santos Gouveia é formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, foi estagiário da equipe de comunicação do Banco Santander, atuou em rádios como comentarista esportivo e já participou de trabalhos voluntários ligados á prática do futebol.